sábado, 16 de junho de 2012

RESENHANDO EDUCAÇÃO

                                                                                  CASTROAldiana Moreira

Resenha do livro: O que é Educação
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, 44ª ed., 2005.
“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.”
João Guimarães Rosa/Grande Sertão: Veredas
Carlos Rodrigues Brandão é doutor em Antropologia pela USP e já lecionou como professor universitário na UNB, UFG e UNICAMP. Nesta obra, o autor disserta em nove capítulos, a partir de uma linguagem sociológica-antropológica, sobre o conceito de educação, procurando desmitificar aideia de que o processo educacional existe somente na escola.
Logo no capítulo inicial, Educação? Educações: aprender com os índios, o autor expõe que
todos os seres não passam ileso pela vida sem que sejam alvo de um processo educativo. Em todos os setores em que se vive, vivenciam-se experiências de ensinamento-aprendizagem.
 Neste contexto, Brandão usa a palavra educação no plural, visto que a educação pode ocorrer em muitos lugares, como na rua, na escola ou na igreja. Para demonstrar este fato, ele descreve os processos de educação indígena.
No segundo capitulo, Quando a escola é na aldeia, Brandão nos mostra que a educação
existe em lugares em que não há escola. Nos é mostrada a relação que os índios tem entre si ensinando sua cultura e seus valores para as gerações mais novas, chamando essa transmissão de conhecimento de ritual e não de educação. O sociólogo discute a idéia de que tudo o que é necessário à vida humana envolve algum tipo de saber, e, este último, requer métodos de ensino
para se concretizar. Essa relação saber-ensino-fazer se constitui o que autor chama de processo de “endoculturação”.
No terceiro  capítulo, Então surge a escola, o autor discute um saber separado do fazer, mostrando que mesmo em povos tradicionais, quem possui o saber passa a apresentar uma espécie de dominação sobre os outros. O que tem o poder de saber fazer, passa a transmitir o seu conhecimento para os demais, reproduzindo os saberes através de suas camadas sociais de geração para geração.
O autor expõe que a partir da categorização de saberes especializados, dentre eles a Pedagogia, surge a escola formal, fazendo com a educação se confunde com o ensino. Ele exemplifica que com o passar do tempo a educação mostrou sinônimo de diferença de classes como pode se observado na Grécia, e em Roma, e surgiu assim, possivelmente, a invenção da escola.
Neste capítulo, o autor enfatiza novamente que a educação está presente em todos os lugares do mundo e em todas as populações.
No quarto capítulo, Pedagogos, mestres-escola e sofistas, Brandão traz à discussão a
educação na Antiguidade Clássica, descrevendo os propósitos que a educação e a escola grega visavam atender. O autor reflete o que era a Paideia e os ideais de homem e de sua formação educativa. A educação na Grécia preparava o homem à vida na polis através da formação do “bom cidadão”, visando sua atuação política e social. Esse sistema educativo centrava-se na busca da verdade e da beleza por meio do estudo da filosofia, da retórica, das virtudes, das artes e da ginástica, e o pedagogo era o sujeito que conduzia as crianças até as escolas para serem instruídas.
O autor apresenta como era a experiência educacional na Grécia Antiga que era o problema da aprendizagem dos ofícios simples no período da paz e na guerra. Nesse sentido houve a transição entre os saberes da agricultura, do artesanato da subsistência e da arte, tudo misturado com os princípios da honra e a solidariedade ligada com a fidelidade da polis.
Nesse contexto existe uma diferença entre a educação do homem livre, e do escravo. O escravo aprendia os saberes fora da escola, já os homens livres tinham sempre um professor particular que o ensina como devia ser sempre livre. Durante um determinado período a educação era somente o privilegio da nobreza guerreira, e se aprendia as tradições escutando as declamações poéticas de Homero. Os pobres nãopodiam levar seus filhos à escola, por não ter condição financeira para pagar ao professor. Com o
tempo a educação clássica deixa de ser assunto para alguns privilegiados para ser uma questão dapolis. E Brandão conclui esse capitulo dizendo que a grande contribuição que a civilização grega apresentou para a civilização ocidental e que esta esqueceu com o tempo é que a educação existe em toda parte, e que vai muito além da escola convencional, e diz que são as pequenas relações sociais existente entre vários membros da sociedade é que vai construído a educação.
No quinto capítulo, A educação que Roma fez, e o que ela ensina, faz um paralelo entre a
educação grega e a educação romana e aponta que a educação romana não se estendia, nos
primórdios, apenas aos cidadãos nobres e livres - como na Grécia -, mas a todos os romanos.
Entretanto, quando uma nobreza romana abandona a terra para dedicar-se à política, surgem as primeiras agências de educação e modelos específicos de educação às diferentes classes sociais.
Os primeiros latinos eram camponeses e viviam em comunidade, a iniciação das crianças e
dos adolescentes era aprender os valores dos antepassados, que chamavam de educação doméstica, que se aprendia em casa, com intuito de chegar à formação de uma consciência moral.
No inicio da formação da cidade de Roma não existia um cuidado na educação física e intelectual de seus cidadãos ociosos que pensavam primeiramente somente em governar e guerrear.
 Com enriquecimento da nobreza romana, essa se afasta do labor da terra e se ocupa somente pela política.
E dessa maneira pouco a pouco o ensino que era pastoril camponês passa a ser a formação para ser guerreiro, e ai surge uma oposição entre o ensino dos pais e dos mestres-pedagogos que convivem com os educandos e os acompanham durante um determinado período de sua vida para a formação de seu saber.
 E conclui que a educação romana influenciada em parte pelo espírito grego vai ajudar
os filhos dos soldados e funcionário romanos a controlar os vencidos e impor sobre eles a vontade, e a visão de mundo do dominador.
No sexto capítulo, Educação: Isto e aquilo, ao contrário de tudo, o pesquisador busca compreender o conceito de educação a partir do que dizem as leis oficiais, os discursos dos estudantes e intelectuais sobre a temática e verifica a dialética existente no “dito” e “não-dito” imbuída nos diferentes discursos acerca da educação brasileira. Investigando esses documentos, Brandão constata que “não há apenas idéias opostas a respeito da Educação, sua essência e seus fins. Há interesses econômicos, políticos que se projetam sobre a educação” (BRANDÃO, 1988, p. 60).
Brandão conclui esse capitulo dizendo que a definição, e a legislação sobre a educação é feita como uma maneira de camuflar os interesses de uma determinada classe social que tem o poder econômico, como político.
No sétimo capitulo, Pessoas "versus" sociedade: um dilema que oculta outros, continuando
a explicitação de seu pensamento, Brandão questiona qual a finalidade da educação. O autor discute a idéia de que o fim da educação é a “perfeição”. Entretanto: - Que perfeição é esta? Quem a define? Ela é universal a todas as culturas? Para refletir essas problemáticas, o autor parte dos pressupostos de Émile Durkheim e alude para o fato de que a educação também se constitui uma prática social que inclui tipos de saber e reproduz sujeitos mediante determinadas exigências, princípios e controles sociais. Ele explica o conceito de educação de uma maneira filosófica se ela é inata, vem de dentro da pessoa, ou se ela externa o meio que forma a pessoa, resolvendo esse dilema dizendo que a educação é uma construção social que foi pensada por uma pessoa ou instituição com o objetivo de atender uma necessidade do coletivo, para que individuo obtenha tudo
que precise para construir sua subjetividade. Ou seja, o intuito da Educação é formação integral desse ser humano. E volta a discussão que essência da educação é a humanização do ser para manutenção da comunidade como era feito na Grécia Antiga, e em Roma, e diz que a educação é uma parte real da vida de como esse ser humano deve existir. Brandão conclui que a educação humanística visa retornar o sentido de educação que era pensando pelos gregos e romanos, uma educação voltada para a comunidade.
No oitavo capítulo, Sociedade contra Estado: Classe e educação, o sociólogo questiona a
existência de uma educação universal. Para ele, a educação é uma prática social, cujo fim é o desenvolvimento de aprendizagens nos seres humanos que produzem tipos de sujeitos sociais.
Brandão alude ainda que, apesar da essência humana ser basicamente a mesma, são os fatores estruturais de uma sociedade – modos de produção e valores culturais - que determinam os tipos de educação adequados aos interesses políticos e econômicos de uma sociedade. Brandão também reflete o discurso liberal da “educação permanente” que deve acompanhar as transformações ocorridas no mundo. Isso significa que os sujeitos sociais devem ser formados, continuamente, mediante as tendências e exigências do mercado de trabalho. O autor denuncia o utopismopedagógico que atribui à educação a tarefa de transformar o mundo e promover a ascendência social. Partindo de pressupostos freirianos, ele diz que a educação não é suficiente para promover atransformação social, entretanto, sem ela essa transformação é impossível.
No nono capítulo, A esperança na educação, o autor faz uma reflexão dos capítulos
anteriores, e reforça a idéia que a educação se dá fora do poder de controle do sistema escolar, e que é preciso reinventar a educação no dia a dia, algo que as pequenas comunidades sabem fazer se reunir para reivindicar seus direitos que muitas vezes o Estado ignora. O pesquisador aponta que “assim como a vida é maior que a forma, a educação é maior do que o controle formal sobre a educação” (BRANDÃO, 1988, p. 103). Brandão reflete que as classes dominadas conseguem, mesmo dentro de limites estreitos, criar uma identidade própria, por meio de mecanismos de resistência contra a invasão cultural, e, assim, lutam pela perpetuação de saberes e práticas intrínsecas a sua cultura. Questiona a estrutura escolar dos pedagogos que dizem que a educação só se dá pela escola, e se esquecem que a educação é vida, está muito além da escola. E conclui
dizendo que somente o educador "deseducado" é que pode transforma essa realidade educacional, e dar um novo sentido para educação com a valorização do cotidiano de seus alunos.
No décimo capítulo, o autor sugere algumas referências bibliográficas para aprofundamento da temática. Destacando autores e livros acerca da História da Educação (da Antigüidade Clássica a contemporaneidade) e, também, acerca da compreensão da educação a partir de uma perspectiva sociológica.
Críticas e Sugestões
A Ideia que a educação só acontece na escola caiu em desuso, pois muitos nunca foram à
escola, porém são sábios, aprenderam com a vida ou em convívio com outros. A educação não fica restrita a salas de aulas ou a professores, todo àquele que aprende é um aluno logo aquele que ensina é um professor.
O texto enfoca a existência de povos que se submetem e outros que dominam, usando a
educação, seja com o controle do que se ensina, para que seus liderados não aprendam algo que possam despertá-los e assim queiram fazer uma revolução, ou com a falta de acesso a educação, nãopermitindo deste modo que todos tenham conhecimentos dos seus direitos e assim queiram requerêlos.
O texto é de fácil compreensão e deixa claro que a educação está por todos os lados e que
muitos não perceberam o seu poder e por isso até hoje são manipulados diretamente ou
indiretamente por poucos que estão no poder. Devido a isso dedico à leitura deste texto a todos os que têm sido manipulados no decorrer dos anos.
Sem sombra de dúvida vale a pena consultar esta obra. A abordagem sociológica apreciada pelo autor promove um pensar crítico acerca de paradigmas que envolvem os discursos dos sistemas educacionais, saberes e práticas institucionais. Dessa forma, a obra impulsiona novas leituras e reflexões, visto que o autor oferece um entendimento do tema até a consolidação do projeto liberal de educação.
Assim, é importante que os leitores busquem outras leituras complementares, a fim de
refletir os novos paradigmas e exigências neoliberais que assolam o mundo pós-modernidade e, sobretudo, a educação.
Concluindo, compartilha-se com Brandão ao apontar que, sendo a educação uma prática social em constante processo de transformação, deve-se buscar compreendê-la mediante os interesses, exigências e necessidades da sociedade. Dessa maneira, ficam abertos os questionamentos: - Que tipo de educação se adéqua a atual realidade brasileira? Quais seus pressupostos e finalidades? Buscar respostas para estas questões é estabelecer um diálogo com o passado e, assim,compreender as transformações presentes na educação e seus significados sociais.

Um comentário:

  1. Olá colegas,mas uma obra prima dos alunos do Pici, que riqueza!Recomendo para quem gosta de uma boa leitura e para quem não gosta começe a gostar, faz bem a alma,traz cultura, conhecimento e enriquece os saberes.
    Parabéns Aldiana !
    Divulgar conhecimento é uma virtude!
    Profª Naiola Miranda

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